quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O hábito da disciplina

Nada se constrói sem o dia após o outro. Basta olharmos à nossa volta: a cerâmica que pisamos e o tijolo que nos protege são obras da sucessão dos dias

Cena do filme Karatê Kid (1984). Disciplina é um dos temas mais fortes da obra

Quando comecei a estudar música, perguntei a uma violonista que admirava: “Quantas horas você estuda por dia?” A resposta ressoa até hoje: “Estudo todos os dias, de 3 a 4 horas.” E me aconselhou um início sadio: “estude 1 hora todo dia, por uma semana, em vez de 8 horas num dia só.”

Oito horas são mais que 7, mas o “todo dia” é melhor que “o dia todo.” É a memória que cristaliza o conhecimento.

Músicos, escritores, atletas, concursados e pedreiros dependem da sucessão dos dias para atingir um resultado. Disciplina sem ansiedade.

O escritor Ernest Hemingway colava um cartaz no seu quarto para anotar seu progresso diário na produção de palavras. Os números variavam de 450, 575, 462, 1250, 512. Sua justificativa: “a fim de não tapear a mim mesmo.”*

O médium Chico Xavier psicografou mais de 420 livros em 92 anos de existência. Em 1996, Hermeto Pascoal compôs uma música por dia; o resultado é o Calendário do Som, com 366 composições. Algo semelhante ao que Lorraine Loots faz com suas pinturas, dedicando 1 hora por dia.

A construção da disciplina requer um esforço heroico. Nossas ideias são geniais, originais e bem intencionadas. Mas muitas não sobrevivem à empolgação e raramente cumprimos as promessas que fazemos a nós.

Nada se constrói sem o dia após o outro. Basta olharmos à nossa volta: a cerâmica que pisamos e o tijolo que nos protege são obras da sucessão dos dias.

A disciplina é consequência da organização. Mas não se nasce organizado. Precisamos anotar, agendar, listar, jogar fora, repor. E isso depende da volição: o ato pelo qual a vontade toma uma determinação.




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