De tempos em tempos, a música nos brinda com “hinos de resistência” – canções que por alguma razão que ninguém sabe explicar se transformam na trilha de um movimento inteiro.
Foi assim com Bella Ciao, em 1945, um apelo ao combate ao nazismo na Europa Ocidental ao final da Segunda Guerra Mundial; Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, em 1968, hino de resistência ao regime militar brasileiro; Wind of Change, da banda alemã Scorpions, símbolo do desmembramento da União Soviética e queda do Muro de Berlim, em 1990, e, mais recentemente, A Marselhesa, hino nacional da França e uníssono mundial contra o terrorismo.
Embora historicamente todas as músicas citadas acima tenham seu valor e importância, é Wind of Change, dos Scorpions, que, na minha opinião e apesar de seus quase 30 anos, siga tão contemporânea quanto na época em que marcou o fim da Guerra Fria.
Em tradução livre, a canção que começa com um inesquecível assobio, seguido com toques de guitarra, questiona: “Você já chegou a pensar que o mundo está acabando? Que todos poderíamos ser tão próximos, como irmãos? O futuro está no ar, posso senti-lo em todo lugar, soprando junto com o vento da mudança”.
Sim, o futuro estava no ar.
A ordem mundial em 1990 era derrubar muros da vergonha, como o de Berlim, que dividia a “Alemanha Oriental” da “Alemanha Ocidental”, e uma série de tentáculos imaginários de uma poderosa União Soviética ficados no pescoço de nações menores.
Passados 27 anos, com o perdão do clichê, o mundo é outro. Basta dizer que temos algo chamado internet, que transformou tudo, não necessariamente de forma positiva.
Estados Unidos e Rússia voltaram a se estranhar, caiu o embargo a Cuba e a ordem dos anos 2010 é a desordem. O reino hoje é da desesperança na política e na economia. Como consequência disso, na segurança, o domínio é do terror.
A China, agora chamada de Tigre Asiático, vende como nunca, embora siga medievalmente executando pessoas com tiros na nuca, e cobrando delas a bala.
O Oriente Médio arde em chamas, enquanto a Europa unida se descontrói lentamente, vendo emergir com vigor velhos fantasmas locais, como a extrema-direita.
Em vez de derrubar muros, políticos os erguem e milhões de pessoas morrem de fome ou no mar tentando fugir de suas próprias casas.
O Brasil passa por sua maior crise político-econômica da história contemporânea, com ameaças de extensão por uma década. (Lembre-se que há países que, oito anos depois, ainda não se recuperaram da crise de 2008.)
Para onde correr? O que esperar desse mundo?
A saída é persistir. E quem persiste resiste.
É acreditar que a tempestade uma hora passa, e que sempre passa. E que quando isso acontecer, é aquilo que fizemos para nos proteger e proteger aqueles que gostamos que ficará mais evidente. É aquilo que nos salvará.
Não vivemos um tempo de respostas, mas sim de perguntas.
O que você está fazendo, em vez de reclamar? Onde estão as suas anotações para 2017? Quem disse que não existem planos e metas em um país em crise ou quando se está desempregado?Onde você quer estar quando soprar o vento da mudança?
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Marc Tawil
Jornalista, radialista e escritor. Pertenceu às redações do jornal Resenha Judaica, Rádio Jovem Pan AM, Jornal da Tarde (Grupo Estado) e Rádio BandNews FM. Publicou os livros Trânsito Assassino (Ed. Terceiro Nome), Haja Saco, o Livro (Ed. Multifoco) e editou a biografia do advogado Abrão Lowenthal (Ed. Quest). Tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV e cursa MBA de Marketing pela USP. Dirige a Tawil Comunicação. Textos semanais no Pulse LinkedIn. Leia-os aqui.
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