terça-feira, 10 de outubro de 2017

O aprendizado como um hábito para a vida

John Coleman
OUTUBRO 2017

Todos nascemos com uma curiosidade natural; queremos aprender. Mas as exigências da vida profissional e pessoal reduzem nosso tempo e a vontade de satisfazer esta curiosidade.
Desenvolver hábitos específicos de leitura — conscientemente estabelecidos e cultivados — pode ser uma alternativa tanto para a contínua evolução profissional quanto para uma profunda realização pessoal.


Recentemente, debrucei-me sobre as duas primeiras biografias de Teddy Roosevelt, escritas por Edmund Morris, The Rise of Theodore Roosevelt e Theodore Rex. Roosevelt tinha seus defeitos, mas era, sobretudo, fascinante e um intelectual voraz. Ele publicou seu primeiro livro, The Naval War of 1812, aos 23 anos e continuou a escrever sobre todos os assuntos, de preservação à política e biografias. Segundo Morris, dizia-se que ele lia um livro por dia e toda essa bagagem possivelmente o tornou não só carismático, como também excepcionalmente preparado para lidar com vários assuntos em sua carreira presidencial, tais como: empenho na preservação da natureza em nível nacional, expansão marítima, regulamentação do truste, e muitos outros.
Roosevelt era o que podemos chamar de “eterno aprendiz”. Aprender, para ele, tornou-se uma fonte de prazer pessoal e um caminho para o sucesso profissional. Trata-se de um hábito que muitos de nós deveríamos adquirir. O jornal The Economist, há pouco tempo destacou que, com todas as interferências da economia moderna, em especial da tecnologia, o constante desenvolvimento de habilidades é crucial para uma relevância profissional duradoura. O alto grau de instrução está geralmente associado a salários mais elevados a um baixo nível de desemprego. E, além de ser útil, aprender é agradável; é prazeroso envolver-se com um novo assunto. Ter um leque de assuntos interessantes ao conversar com amigos e colegas aumenta sua segurança. E, por fim, é gratificante entender um assunto novo e difícil.
Porém, esse tipo de aprendizado contínuo e persistente não é simplesmente uma decisão; precisa se tornar um hábito. E, para isso, é necessário dedicação.
Em primeiro lugar, desenvolver o hábito de aprender vai exigir que você destaque os resultados que deseja alcançar. Você gostaria de revitalizar suas conversas e atividade intelectual por meio da leitura de vários assuntos novos? Está tentando dominar alguma área específica? Gostaria de ter certeza de que está atualizado em um ou dois assuntos fora da sua rotina profissional? No meu caso, gosto de frequentar um grupo de leitura, que me expõe a vários tipos de assuntos e gêneros, com o objetivo de fazer uma exploração intelectual geral ao mesmo tempo em que mergulho mais profundamente em algumas áreas, como educação, política internacional e liderança. Escolher um ou dois objetivos vai permitir que você estabeleça metas alcançáveis para ter condições de cultivar o hábito.
Com base nessas escolhas determine objetivos realistas. Como muitas pessoas fazem todos os anos, estabeleço metas para mim mesmo. Estas tomam forma de objetivos que eu gostaria de alcançar ao longo do ano (por exemplo ler 24 livros em 2017) e hábitos diários ou semanais que preciso cultivar para alcançar (como ler no mínimo 20 minutos por dia, 5 vezes por semana). Para mim, metas a longo prazo estão intimamente ligadas a um planejamento. Para hábitos diários ou semanais uso um aplicativo chamado momentum, que me permite, de forma rápida e simples, inserir a conclusão das minhas atividades e, assim, monitorar meu progresso. Estas metas transformam uma ligeira vontade de melhorar o aprendizado em um conjunto real de ações.
Com as metas estabelecidas, monte um grupo de estudo. Participo de um clube de leitura que se reúne a cada dois meses e me ajuda a manter minhas metas de leitura em dia, além de deixá-las mais divertidas. De modo análogo, muitos de meus amigos escritores entram em grupos nos quais os participantes leem e editam entre si os próprios trabalhos. Para metas mais específicas, una-se a uma organização focada nos assuntos que deseja aprender — um grupo de discussão sobre política internacional que se reúne mensalmente ou um grupo que faz trabalhos em madeira e se reúne regularmente para trocar informações. Você também pode pensar em uma aula convencional ou um curso de graduação formal para se aprofundar em algum assunto e assumir o comprometimento inerente a ele. Essas comunidades aumentam o comprometimento e tornam o aprendizado mais leve.
Para focar em seus objetivos, livre-se das distrações. Aprender é agradável, mas também exige esforço. É tão bem documentado que chega até a ser truísmo, mas lidar com muitas tarefas simultaneamente e e a tecnologia (celulares, e-mail) podem tornar muito difícil ou até impossível conseguir a concentração necessária para o aprendizado eficaz. Reserve um período para aprender e evite as interrupções. Quando for ler, procure um lugar silencioso e esqueça o celular. Se você está tendo uma aula ou participando de um grupo de leitura, tome notas que o ajudem a melhorar e reter a compreensão e deixe de lado laptops, dispositivos móveis, e outras tecnologias dispersivas no carro ou na bolsa, fora de seu alcance. E, além de eliminar fisicamente as distrações, pense em treinar a mente para lidar com elas. Eu, por exemplo, tive um impacto agradável da meditação constante, que tem trazido uma melhora no meu foco intelectual, aumentado minha atenção em palestras e na leitura de livros difíceis.
Por fim, use a tecnologia para complementar o aprendizado. Ao mesmo tempo em que ela pode ser uma distração, consegue ser muito usada para contribuir com o processo de aprendizado. Cursos como os Massive Open Online Courses (MOOCs) permitem que alunos de qualquer lugar se unam em uma comunidade para que possam, juntos, aprender com as mentes mais brilhantes do mundo e uns com os outros. Podcasts, audiolivros, livros digitais e outras ferramentas possibilitam ter um livro em mãos a qualquer hora. Descobri, por exemplo, que ao usar audiolivros, no que eu chamo de “momentos em movimento” — me locomovendo ou correndo, por exemplo — consigo praticamente dobrar o número de livros lidos no ano. Bons podcasts ou cursos no iTunes U podem, da mesma maneira, proporcionar o aprendizado em qualquer lugar. É possível que a combinação dessas ferramentas com aplicativos que fazem parte de seus hábitos com a tecnologia seja um aliado essencial na rotina do aprendizado.
Todos nascemos com uma curiosidade natural; queremos aprender. Mas as exigências da vida profissional e pessoal reduzem nosso tempo e a vontade de satisfazer aquela curiosidade natural. Desenvolver hábitos específicos de leitura — conscientemente estabelecidos e cultivados — pode ser uma alternativa tanto para o contínuo desempenho profissional quanto para uma profunda realização pessoal. Talvez Roosevelt tivesse razão: uma vida inteira dedicada ao aprendizado já é, por si só, um triunfo.
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John Coleman é coautor do livro Passion & Purpose: Stories from the Best and Brightest Young Business Leaders.

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